A Aldeia de Broas, que se encontra totalmente abandonada há mais de
40 anos, segundo alguns, não foi modificada após o seu abandono.
Broas é uma aldeia desabitada que se situa maioritariamente na
freguesia de Cheleiros, concelho de Mafra, e a sua restante área na freguesia
de Terrugem, concelho de Sintra.
Apesar do difícil acesso local, a aldeia encontra-se próxima de
importantes vias de circulação como a N9, N247, IC16 ou a A21.
A aldeia encontra-se rodeada de um vasto património cultural natural, nomeadamente sob o ponto de vista do coberto vegetal, dos diversos e diferentes afloramentos rochosos e também de alguma fauna endémica da zona.
A topografia do terreno em que se insere apresenta várias elevações
cónicas, ou broas, daí o seu nome.
Broas desenvolve-se numa encosta orientada para o vale de Cheleiros,
onde confluem a ribeira da Cabrela e o rio Lizandro.
Esta é uma aldeia com características saloias, composta por cerca de 9 habitações, 4 lagares, vários armazéns e currais.
No povoado existe também um pombal e várias eiras, grande parte dos
terrenos em redor, delimitados por muros de pedra, eram explorados para fins
agrícolas.
Nesta aldeia não existe qualquer tipo de edifício religioso,
administrativo ou comercial.
A pedra é um elemento em abundância no local, daí todas as
construções serem erguidas em alvenaria de pedra extraída directamente do solo.
As habitações são compostas por casa de fora, quartos e cozinha,
nesta última divisão existe sempre um forno.
Só as habitações possuem dois pisos, todos os outros edifícios têm
apenas o piso térreo.
Característico da aldeia é um grande freixo rodeado por bancos de
pedra, que se encontra no centro do povoado, era frequente a população
reunir-se nesse local para conviver e debater os seus assuntos.
Broas chegou a ter cerca de 25 habitantes, os seus dias baseavam-se
no ritmo das culturas e da pastorícia, as atividades que lhes garantiam
sustento.
A aldeia nunca foi independente, os seus habitantes necessitavam dos
serviços que só outras povoações lhes podiam oferecer.
Actualmente a aldeia é apenas um esqueleto de pedra, que as ervas
daninhas aconchegam com o restolho dos anos.
Belíssimo freixo com os bancos de pedra.
Desde a saída do último habitante que a aldeia não sofreu alterações
a nível arquitectónico, mantendo-se uma das poucas aldeias medievais portuguesas
já abandonada e em tão bom estado de conservação.
Nos últimos anos Broas foi mencionada em vários artigos de jornais
locais, tem sido objecto de estudo por parte de vários investigadores e aparece
categorizada como imóvel não classificado de interesse patrimonial na revisão
do plano director municipal da Câmara Municipal de Mafra de 2009.
Actualmente esta aldeia está integrada em alguns roteiros culturais e
desportivos, o que a leva a ser bastante procurada por praticantes de
actividades ao ar livre.
Há indícios de ocupação humana na margem esquerda da ribeira de
Cheleiros, onde se situa a aldeia de Broas, no período paleolítico. Vários
achados arqueológicos permitem sustentar que na época romana toda a zona de
Faião, próxima da aldeia, tivesse grande ocupação.
O primeiro registo histórico
que se conhece sobre a aldeia de Broas pertence ao censo populacional e tem
data de 1527. Neste documento a aldeia aparece denominada como "Aldea das
Boroas", sendo termo da vila de Chilheiros.
Em 1805 sabe-se que a aldeia
de Broas já pertencia à freguesia de Cheleiros, concelho de Mafra, como revela
um marco geodésico ali encontrado.
No ano de 1834 é definida a divisão administrativa entre os concelhos de Mafra e de Sintra, delimitando a aldeia em dois concelhos.
A casa mais recente data de
1888 conforme consta na gravação da pedra de um óculo que lhe pertence.
Em 1936 a aldeia é mencionada como integrando a freguesia de
Cheleiros, concelho de Mafra.
No ano de 1950, viviam na aldeia cerca de 25 pessoas (6 a 7
famílias).
Desde então a quantidade de habitantes decresceu, sabe-se que a
última habitante de Broas foi Ti Jaquina, segundo uma antiga moradora da
aldeia.
No entanto há uma certa
controvérsia quanto à data exacta do abandono da aldeia, ainda assim todas as
datas recolhidas se inserem num período que vai desde 1969, data em que sucedeu
o terramoto que abalou a zona de Lisboa até 1982.
Desde essa data a aldeia nunca
mais foi habitada, isto permitiu que a aldeia mantivesse a sua forma original.
Durante algum tempo um dos seus lagares, já inativo, serviu como
curral para guardar ovinos e caprinos.
A aldeia encontra-se bastante degradada.
Há vegetação a crescer no interior das ruínas que provoca o
desabamento de algumas paredes e coberturas, e também ocorrem actos de
vandalismo, desde o roubo de cantarias em pedra ou até mesmo a incêndios
provocados no interior das casas.
A povoação mais próxima,
Almorquim, dista cerca de 600 metros, estas duas aldeias estão separadas por um
caminho apenas transitável a pé, por bicicleta ou por pequenos veículos
motorizados.
Um dos acessos originais era uma estrada de origem romana
da qual
ainda se encontram vestígios.
Ao longo dos anos a aldeia foi perdendo população devido a factores de
várias ordens. A agricultura praticada em Broas tornou-se pouco rentável e por
isso deixou de garantir oportunidades de emprego.
Este facto teve um grande peso negativo sobre a economia local,
contribuindo para que alguns dos habitantes se vissem obrigados a abandonar a
aldeia em busca de rendimentos mais atrativos.
À semelhança do que acontece em aldeias com outros casos de
desertificação, a população torna-se envelhecida e quem explora actividades
económicas possui baixa qualificação académica. Falta de inovação, de
equipamentos e infraestruturas de apoio, entre outros meios que possibilitam o
progresso e rentabilização da sua produção complementam as razões para o
declínio.
Broas não conseguiu acompanhar a evolução dos tempos, não houve o
investimento necessário para manter o conforto básico dos seus habitantes.
Os acessos viários à aldeia foram-se danificando, dificultando cada
vez mais a passagem a veículos automóveis.
A aldeia nunca chegou a ser dotada de infraestruturas básicas como
água canalizada, eletricidade, telefone ou saneamento básico.
Tudo isto fez com que a população, sobretudo a mais jovem, partisse à
procura da melhor qualidade de vida, e estatuto social que os centros urbanos
lhes prometiam.
A divisão entre concelhos a que Broas está submetida acabou por
contribuir para esta falha no seu desenvolvimento, pois nem a Câmara de Sintra
nem a de Mafra assumiram o papel essencial para o seu apoio.
Muitos dos habitantes que saíram de Broas fixaram-se em aldeias
vizinhas como Faião, Cabrela, Cheleiros ou Almorquim, outros em Lisboa e alguns
emigraram mais tarde para França.
Via: aminhasintra.blogs.sapo.pt
Fotografias de Rafael Baptista e de C@rlos Baptista
(Maio de 2018)