terça-feira, 15 de agosto de 2017

"Anta de Adrenunes"



















Por caminhos florestais, completamente envolvido num cerrado nevoeiro em pleno dia de Agosto, não muito longe da Peninha, na Serra de Sintra (Azóia-Capuchos), deslumbrei no topo de uma colina um conjunto de pedras imponentes,  comummente designada de “Anta  de Adrenunes”.
Se para alguns, o local não é mais do que um aglomerado de pedras, dispostas ao acaso pela Mãe natureza, o certo é que o local está referenciado pela Direcção-Geral do Património Cultural.


Seja apenas um penedo natural ou um reaproveitamento pelo homem, só pelo prazer da aventura e da beleza do local, vale a pena uma visita.
















Numa época em que se despertava para o conhecimento do passado mais remoto da Humanidade, não apenas por mera curiosidade intelectual, como, sobretudo, por substanciar algumas pretensões de conexões mais nacionalistas, os monumentos megalíticos constituíram uma das peças fundamentais em todo o processo subjacente à edificação de novas teorias relacionadas com a antiguidade de determinadas regiões e/ou localidades, ao mesmo tempo que promoviam o derrube das mais variadas hipóteses fantasiadas em torno da sua origem e funcionalidade.



E Portugal não poderia ser uma excepção neste enquadramento científico, nomeadamente por dispor de um considerável número já identificado de exemplares desta tipologia tão específica de monumentos arqueológicos, alguns dos quais registados ainda em meados do século XVIII no âmbito do levantamento dos vestígios antigos existentes no actual território português, incentivado pelo célebre Alvará de 1721, da lavra de D. João V (1689-1750).



Não obstante, teríamos de esperar por individualidades tão marcantes, quanto precursoras da actividade arqueológica entre nós, como as de Francisco Martins de G. M. Sarmento (1833-1899), V. do M. Gabriel Pereira (1847-1911), Estácio da Veiga (1828-1891) e Carlos Ribeiro (1813-1882), para que a sua investigação assumisse contornos mais sistemáticos e verdadeiramente científicos, ao permitirem um arrolamento mais coeso e uma comparação formal mais sólida, uma abordagem absolutamente essencial ao estabelecimento da sua atribuição cronológica, um dos objectivos centrais destes homens de excepção da intelectualidade oitocentista.
Mas, nenhuma outra personalidade portuguesa terá promovido de modo tão acentuado além fronteiras os estudos desenvolvidos nesta área em Portugal como o fundador da Real Associação dos Architectos Civis e Archeologos Portuguezes (predecessora das actuais Associação dos Arqueólogos Portugueses e Ordem dos Arquitectos Portugueses), como a de Joaquim Possidónio Narciso da Silva (1806-1896). E foi, precisamente, aquela que é conhecida por "Anta de Adrenunes" que motivou uma das suas primeiras incursões no entendimento do megalitismo nacional, manifestada bem cedo, ainda durante a década de cinquenta, num dos múltiplos périplos que realizava com certa frequência pelos arredores de Lisboa, em busca de vestígios de um passado bastante mais remoto do que as estruturas medievais e, até mesmo, romanas.



Foi, então, que considerou ter identificado a existência deste dólmen numa das elevações da Serra de Sintra, a mais de quatrocentos metros acima do nível do mar, embora a escavação que promoveu não revelasse quaisquer artefactos corroboradores da sua utilização funerária. Apesar disso, apresentou o resultado desta sua indagação numa das sessões do Congresso Internacional de Antropologia e Arqueologia Pré-histórica, realizado em 1871 na cidade de Bolonha, onde atribuiu o monumento à Idade da Pedra, numa altura em que alguns autores ainda persistiam em considerá-los bastante posteriores, provavelmente em razão do espólio encontrado nalguns exemplares, denunciadores de reutilizações francamente mais tardias.
Aparte a polémica que acabaria por envolver sempre a "Anta de Adrenunes", sobretudo por suscitar, junto de vários investigadores, as maiores dúvidas relativas à sua natureza antropizante, o facto é que seria classificada, logo em 1910, como "Monumento Nacional", pelo Conselho Superior dos Monumentos Nacionais.

























Estamos, por conseguinte, em presença de um conjunto de pequenos penedos, entre os quais se abre, a Poente, uma galeria estreita, com cerca de cinco metros de altura, que poderá ter sido utilizada como necrópole colectiva durante o longo período megalítico português, sem aparente modelação (ou adaptação) humana a essa finalidade, uma das razões pelas quais não deverá ser entendida como "Anta"/"Dolmen".










Texto retirado de: 
www.patrimoniocultural.gov.pt







Fotografias de C@rlos Baptista 
(Agosto de 2017)