Desconhece-se a época da fundação da capela de São Lázaro e da
Gafaria de Sintra, que lhe estava associada. José Alfredo Azevedo cita as
conclusões do Visconde de Juromenha a partir de um documento de 1409,
sustentando que, por esta data, "já excedia a memória dos homens a
fundação do Hospital e Gafaria" (cf. AZEVEDO, 1984, p.9). Certo é que nos
finais do século XV, altura em que o conjunto monumental foi objecto de grandes
obras, a capela já existia.
Deve-se à rainha D. Leonor o aspecto geral actual da capela, assim
como um Tombo dos Bens do Hospital e Gafaria da Vila de Sintra, que AZEVEDO,
1984, p.11, admite poder pertencer já à década de 20 do século XVI.
As parcelas
mais antigas que se conservam no monumento inserem-se perfeitamente no
vocabulário artístico da altura, genericamente designado por Manuelino. O
portal principal é o elemento exterior que melhor evidencia esse momento
artístico e, presumivelmente, datará de uma data já relativamente tardia, dado
o carácter atípico da sua forma: "em arco deprimido emoldurado por toro
torso" (NOÉ, 1991 e MARQUES, 2004, DGEMN on-line), assentando, por sua
vez, em bases facetadas típicas do Manuelino. Ainda na frontaria, encimando a
janela quadrangular gradeada do segundo registo, existe um escudo de D. Leonor
que, pela sua posição dominante, tutela a fachada principal e é o derradeiro
ponto de olhar para quem observa o alçado.
No interior, as alusões directas à rainha encontram-se nos três
bocetes da abóbada da capela-mor, em cujas faces se representou o pelicano
(emblema de D. João II), o escudo bipartido do reinado deste monarca e,
finalmente, o camaroeiro (emblema da rainha) (AZEVEDO, 1984, p.16). Esta
abóbada, a mais complexa do conjunto, cobre dois tramos e é de perfil
estrelado, com cadeia central interrompida pelos bocetes, solução que contrasta
com o esquematismo e simplicidade da obra arquitectónica.
Com efeito, se para a construção contribuiu o casal régio (ou apenas
D. Leonor), o resultado final foi um templo de linhas depuradas e de planta
modesta, articulando nave única, de dois tramos abobadados em cruzaria de
ogivas e capela-mor de menores dimensões e volumetria. A reforçar esta
simplicidade deliberada, está a fachada principal, cujos elementos divisores
foram resumidos ao essencial (um portal e uma janela, em relação axial entre
si), sendo a empena triangular, como é comum acontecer nas igrejas modestas
tardo-medievais e modernas. Para além disso, quase não existem janelas laterais
(à excepção de duas, quadrangulares e gradeadas, colocadas no início da nave,
por onde os leprosos podiam assistir à missa e que, por isso, não deveriam dar
directamente para o exterior). A falta de iluminação é flagrante na pequena
capela-mor e contribui para o aspecto soturno de todo o interior do templo,
onde apenas o frontal de altar de azulejos hispano-árabes parece atenuar a
austeridade do espaço.
Na posse da Misericórdia local a partir de 1545, não consta que
tenham existido grandes melhoramentos no conjunto ao longo da época moderna
(IDEM, 1984, p.18).
Sabemos que, a seguir ao Terramoto de 1755, a capela
desempenhou funções de paroquial de São Miguel, por esta ter praticamente ruído
com o sismo. Só no século XX voltamos a conhecer algumas obras importantes. Em
1932, porque a capela ameaçava cair, a DGEMN promoveu trabalhos de restauro,
que visaram reconstituir a obra original manuelina. Assim, a par da natural
consolidação estrutural, verificou-se um processo de reinvenção de algumas
partes em falta, como a "reconstituição de artesões mutilados e
consolidação dos fechos ornamentados" ou a "substituição de cantarias
mutiladas no arco triunfal e porta principal", entre outros (NOÉ 1991 e
MARQUES, 2004, DGEMN on-line). Apesar destas opções restauradoras, a pequena
capela de São Lázaro conserva-se como um dos mais importantes conjuntos
manuelinos da vila, importância que é reforçada pela ainda obscura gafaria que
lhe deu primeira razão de existência.
Capela classificada como IIP - Imóvel de Interesse Público
Texto retirado da Direcção - Geral do Património Cultural
Fotografias de Rafael Baptista
(Dezembro de 2016)