O Chafariz dos Canos é a mais monumental fonte gótica
nacional que chegou até hoje. A primeira referência que se conhece data de
1331, pelo que a sua construção deve incluir-se ainda no reinado de D. Dinis,
praticamente ao mesmo tempo que se realizava outra importante fonte gótica, a
das Figueiras, em Santarém.
A contemporaneidade destas duas obras é importante para
compreender as diferenças que existem entre elas. Enquanto que, em Santarém, se
optou pelo esquema mais comum de fonte, de planta quadrangular, alpendre
seccionado por arcos quebrados em cada alçado e tanque anexo de perfil
rectangular (como nas fontes de Nossa Senhora da Conceição, em Atouguia da
Baleia, e na da Vila de Ourém, esta já do século XV), o modelo adoptado em
Torres Vedras é distinto e destinado a reforçar a monumentalidade do
equipamento.
Com efeito, trata-se de uma obra de planta centralizada,
sextavada, cuja face maior (a fundeira) se adossa a uma muralha que delimita a
praça onde se implanta a fonte. Cada uma das cinco faces desafogadas possui
ângulos reforçados por contrafortes formados por colunas adossadas com capitéis
vegetalistas de dois andares, semelhantes a outros dos claustros de Lisboa e de
Alcobaça, aquele da transição para o século XIV e este das primeiras décadas de
Trezentos. Os panos do pentágono são uniformemente seccionados por arcos
apontados de duas arquivoltas de aduelas molduradas, a interior repousando
sobre finos colunelos adossados à caixa murária e a exterior em pequenas
colunas, ambos dotados de capitéis vegetalistas de florões escassamente salientes
do
suporte. O
coroamento destes panos é efectuado por modilhões de proa tipicamente góticos.
O interior é preenchido por tanque rectangular de duas bicas e um pequeno
corredor em seu redor, enquanto que a cobertura é em abóbada de cruzaria de
ogivas apoiada em mísulas de perfil cónico.
Praticamente dois séculos depois de concluído, o
chafariz foi objecto de uma campanha arquitectónica que introduziu alguns
elementos quinhentistas. Ela foi patrocinada pela infanta D. Maria, filha de D.
Manuel I, em 1561, e deve ter sido motivada pela necessidade de reparações ao
nível da cobertura. A estrutura inferior não parece ter sido alterada, mas ao
nível do coroamento introduziram-se grossos merlões e pináculos de feição
manuelina, assim como gárgulas com animais fantásticos. Mais que uma
actualização estrutural ou estética, esta empreitada destinou-se a reforçar a
monumentalidade da obra, que se viu beneficiada em altura e impacto visual.
Em 1613, refere-se que o chafariz apresentava sinais de
degradação. No entanto, a documentação só menciona uma empreitada reparadora em
1831, por iniciativa do corregedor Pedro Quintela Emauz, que comemorou a sua
acção com duas lápides em latim. No século XX, a DGEMN procedeu a obras de
restauro em 1958 e 1966 e, em 2000, escavações arqueológicas revelaram parte da
muralha medieval da cidade (Porta da Corredoura), que passava junto à fonte,
protegendo-a.
Classificado como Monumento Nacional.
Texto retirado de: www.patrimoniocultural.gov.pt
(Direcção-Geral do Património Cultural)
Fotografias de C@rlos Baptista
(Junho de 2020)