As ruínas do Sanatório Albergaria, que nunca foi concluído, situa-se
junto à povoação de Montachique, freguesia de Lousa, no sopé do monte, junto à
Estrada Nacional nº 374, no concelho de Loures.
Nos finais do século XIX e princípio do século XX, a tuberculose
atingia proporções epidémicas um pouco por toda a Europa. Embora a vacina tenha
sido criada por volta de 1906, não foi devidamente disseminada até ao final da
metade do século XX. Esta, aliada à melhoria significativa das condições da
saúde pública levou a que a mortalidade aliada à tuberculose descesse a pique
até aos dias de hoje. Mas enquanto a medicina não evoluía e o mundo assistia
atónito à disseminação desta doença respiratória e contagiosa, com maior
incidência entre as classes mais pobres, eram precisas alternativas. Criaram-se
então sanatórios, estabelecimentos que atingiam proporções dignas de autênticas
prisões e que eram dedicados ao isolamento e tratamento da doença (apesar dos benefícios
do “ar fresco”, 75% dos doentes internados nestes sanatórios acabavam por
morrer no prazo de 5 anos, segundo dados de 1908).
Na zona limítrofe dos concelhos de Loures e Mafra, na localidade de
Cabeço de Montachique, zona particularmente apreciada e elogiada pelos “bons
ares”, existiram pelo menos cinco estruturas deste tipo.
Corria o ano de 1918 e Francisco de Almeida Grandella, em nome da
“Sociedade dos Makavenkos” doava um terreno de 3.500 metros quadrados para a
construção de um edifício destinado ao tratamento e internato temporário de
doentes de tuberculose. Juntou-se o gesto solidário do arquitecto Rosendo
Carvalheira, que criou um grandioso projecto para o edifício. "O conjunto
do projecto é muito simples, gracioso e pitoresco e fortemente inspirado em
motivos portugueses", escrevia a “Arquitectura Portuguesa” em Julho de
1918.
A idealização do projecto do
Sanatório Grandella.
O plano inicial previa quartos para 36 doentes em regime de internato
gratuito, quartos para vigilantes, uma grande cozinha, refeitório, varanda de
cura, farmácia, sala de pensos, arrecadações, banhos, forno crematório para
pensos, desinfecção e enfermaria de isolamento. Para ajudar a custear os
encargos da obra, seriam criadas também 14 moradias independentes, que também
procurariam dar resposta "à grande falta de habitação para os que, embora
com meios para se tratarem, careçam de aí se instalar".
Rosendo Carvalheira acabaria por não sobreviver para assistir ao
lançamento da primeira pedra deste grandioso feito. A esta festa, compareceu a
aristocracia da época, o que não impediu que desde logo existissem algumas
limitações no que toca ao financiamento da obra.
O projecto era vendido a 5 centavos. Rezava que o Sanatório
Albergaria pretendia “minorar quanto possível a miséria e a doença no meio da
crise tremenda por que está passando o mundo inteiro” e apelava “aos novos
ricos, que têm feito fortunas fabulosas com os lucros da guerra” para que
doassem “uma pequena parcela dessa enorme riqueza” às vítimas dessa mesma
guerra. Porém, o apelo não teve resposta e depressa se parou com a construção,
tendo a ideia morrido ali. Todas as expectativas geradas em torno do projecto
acabaram por sair goradas.
Mesmo sem o Sanatório Albergaria, a zona continuou a ser preferida e
frequentada pelos doentes de infecto-contagiosas, em busca de ar puro e de
melhores condições de vida. O relativo abundar destas infraestruturas, à medida
que a região se tornou mais habitada, contrariava o espírito de criação delas
próprias, ao aumentar o risco de contágio com as populações. Os últimos
sanatórios da região encerraram em 1971 e os edifícios foram progressivamente
convertidos para outros fins. Um centro de recuperação psiquiátrica do
Ministério da Saúde e uma escola, por exemplo. Outros foram abandonados e
ficaram em ruínas. O Sanatório Albergaria continua de pé, tal como foi deixado
há quase cem anos.
Via:
www.memoriaportuguesa.pt
Fotografias de Hugo Pires
(Junho de 2018)