quarta-feira, 27 de julho de 2016

O Casal da Torre - Janas




Lamentavelmente, a incúria demonstrada pelas autoridades competentes em salvaguardar este espaço histórico, tem como resultado este triste espetáculo de abandono e ruína.









Um texto de André Manique
Historiador e investigador de história local




Na zona de Sintra, à entrada da povoação de Janas, existe um casal, primeiramente designado de Miguel Joanes, e que posteriormente ficou a ser conhecido por Casal da Torre. Para ali chegar, segue-se por um caminho de terra batida que parte da estrada principal, e cerca de uns 100 metros adiante, encontram-se umas ruínas de uma antiga capela de estilo gótico. A Capela do séc. XV do Casal da Torre.







Esse casal pertenceu a Mestre Henriques, um distinto médico que durante o reinado de D. Duarte, foi físico mor do Reino.









Mestre Henriques era um grande devoto da Ordem religiosa do Carmo, tratando os Carmelitas com particular veneração, mantendo estreitas relações com os carmelitas do Convento de Lisboa, o qual havia sido fundado em 1389 pelo Condestável D. Nuno Álvares Pereira. Não tendo herdeiros e julgando que o seu casal reunia as condições para fundar um Convento da Ordem em Sintra, resolveu pedir assim licença ao rei. Ainda antes de lhe ser concedida a licença régia, a 14 de Novembro de 1436, ergue uma capela, que denomina de Oratório, e que acabaria por se tornar o primeiro cenóbio carmelita em Sintra. Posteriormente, os monges acabariam por abandonar o local e instalar-se numa zona sobranceira à serra, próximo de Colares.








Mas eis, antes de mais, como nos descreve Visconde de Juromenha esse primeiro local, na sua “Cintra Pinturesca”:


Foi primeiro fundado este Convento no casal da Torre, antigamente chamado de Miguel Joanes no termo de Cintra, que pertenceo a mestre Henrique, physico mór d’El-Rei D. Duarte, o qual tendo primeiro impetrado licença do dito Rei para a sua fundação, [que lhe foi concedida por Carta dada em Lisboa em 14 de Novembro de 1436], deixou em testamento o dito casal, onde já tinha edificado huma Capellinha ou Oratório, á ordem do Carmo para por sua morte se fundar naqelle logar o dito Convento deixando por testamenteiro e executor desta sua ultima vontade a D. Fr. João Manoel, Bispo de Ceuta e Capellão mór.” (Juromenha, 1838, 158)








Mestre Henriques viria a explicitar no seu testamento que as obras do futuro cenóbio só continuariam após a sua morte, pois que pelas suas funções e exigentes permanências na corte, não lhe era possível ausentar-se para o acompanhamento das mesmas. Acabaria por morrer em 1449, e no ano seguinte, a herdade, os seus bens e as suas rendas entraram na posse do convento do Carmo de Lisboa, tendo Frei Constantino Pereira, sobrinho do Condestável D. Nuno Álvares Pereira, sido escolhido para fundar o novo convento.



Todavia, e como nos descreve um frade carmelita do séc. XVII, José Pereira de Stª Ana, o lugar do Casal da Torre em breve se mostrou inóspito, “assim pela esterilidade da terra, só própria de pão, e de gados, como pela falta de vizinhos, que se podessem aproveitar das doutrinas dos Religiosos (...) [e] por ser totalmente desabrigado [pois] nelle reinaõ com irreparavel furia os ventos, que saõ nocivos á saude” (Stª Ana, 1751, II:96).














A construção do convento, ao tempo reduzida à capela a que Mestre Henriques chamara Oratório – e que milagrosamente ainda hoje resiste à irreparável fúria dos ventos –, foi interrompida e, por doação de um terreno, em 1457, e num lugar chamado Boca da Mata, próximo de Colares, os religiosos acabariam por erguer e fundar um novo cenóbio, o Convento de Santa Ana do Carmo, o qual, contrariamente ao primeiro local se encontrava agora “(…) edificado em hum sitio ameno, em huma planície na raiz da Serra, e sobranceiro á Villa de Collares, cercado de frondoso arvoredo. Gosa ao perto da aprazível vista da varsea, casas de campo, pomares, e quintas revestidas de copados arvoredos, e mais longe de logares, e casaes, terminado o horizonte de hum tão variado e deleitavel painel o occeano, cujas vagas prateadas se estão vendo em distancia quebrar naquellas praias” (Juromenha, 1838, 160-61).



José Alfredo da Costa Azevedo, ilustre sintrense do séc. XX, que muito batalhou e contribuiu pela divulgação e preservação do património natural, cultural e edificado da sua terra, descreve assim o primitivo convento do Casal da Torre aquando da sua visita, na década de 1980:


Fui ao Casal da Torre, ultimamente, umas duas ou três vezes e tive ocasião de verificar que ainda existem algumas casas já sem telhado; e na parede de uma delas ainda se pode ver, reduzida às cantarias, uma longa porta ogival, a qual se apresenta vedada por uma cancela feita de canas; no interior vivem galinhas. O casal parece estar habitado – e a presença das galinhas assim o atesta –, mas a verdade é que, em qualquer das vezes que ali fui, não tive a confirmação do facto” (Costa Azevedo, 1997, II: 11).












Actualmente o Casal da Torre encontra-se de facto habitado, com algumas dependências anexas às sobreditas ruínas, e muito embora a pequena capela já não sirva de galinheiro, o seu estado de conservação merece especial atenção. Seriam de extrema importância obras de recuperação neste monumento, um importante elemento patrimonial sintrense e que a irreparável fúria dos ventos e restantes elementos naturais poderão condenar para sempre.



Volvidos dez anos desde que foram escritas estas linhas para um dos capítulos de um trabalho que efectuei sobre o Convento de Santa Ana do Carmo de Colares e seis desde que o mesmo foi apresentado no III Encontro de História de Sintra, resolvi ir visitar de novo o Casal da Torre. Infelizmente o passar dos anos e o fustigar dos ventos e restantes elementos naturais acabaram por prevalecer. Grande parte do alçado sul da capela e seu respectivo portal desabaram por completo, restando apenas parte do alçado nascente e seu portal, muito embora também este em perigo de derrocada.


Surge-me apenas terminar este artigo com o parágrafo com o qual terminei o trabalho na altura.


A importância de um monumento como este vai muito para além da simples valorização arquitectónica e física. Um monumento surge de uma certa necessidade humana em secularizar, não apenas os estímulos técnicos, artísticos e estilísticos do momento, mas também as suas crenças e necessidades de vida, eternizando-se deste modo às gerações vindouras a cultura e sociedade em que se enquadram. Por isso a importância do estudo, conservação, e valorização do Património. Evita-se assim a perda no espaço e no tempo de tudo aquilo que foi vivido, pensado e idealizado antes de nós.




Via: www.cm-sintra.pt/o-casal-da-torre-em-janas




Fotografias de Manuela Videira e C@rlos Baptista
(Julho de 2016)





Fósseis - Pernigem




Fósseis recolhidos próximo da aldeia da Pernigem, Parque Natural de Sintra - Cascais. 









Fotografia de C@rlos Baptista
(Julho de 2016)





quinta-feira, 14 de julho de 2016

Capela de São Jorge (Aljubarrota)












A capela de São Jorge, apesar das suas escassas dimensões e aparente simplicidade, é um dos monumentos mais emblemáticos da célebre batalha que abriu caminho, em Portugal, ao governo da dinastia de Avis e que teve lugar nos campos de Aljubarrota. Quer a sua origem, quer o local exacto onde foi construída, estão intimamente ligados a este episódio e à figura do Condestável D. Nuno Álvares Pereira.










Com efeito, é a este homem tornado mito, cujo poder chegou a ombrear com o do monarca (estatuto tão claramente demonstrado pela contraposição simbólica do seu Convento do Carmo, em Lisboa, com o paço real e castelo da capital), que se deve a construção da capela. Ela implantou-se no sítio onde, no dia da batalha, a 14 de Agosto de 1385, D. Nuno havia depositado o seu estandarte, conforme indica a lápide comemorativa da edificação do templo. O local escolhido não foi um acaso, pois nas manobras de posicionamento dos exércitos, a hoste comandada pelo Condestável havia encontrado esta "pequena elevação com visibilidade técnica sobre o campo de batalha" (PAÇO, 1965, p.8).























A data de arranque das obras é conhecida através daquela lápide. Por ela ficamos a saber que a construção se iniciou em 1393, sete anos após a batalha, sem que existam outras explicações para este distanciamento temporal. Por outro lado, na sua origem, a capela não foi dedicada a São Jorge, mas sim à Virgem (como D. João I havia feito em relação ao Mosteiro da Batalha, sintomaticamente dedicado a Santa Maria da Vitória). Daqui se depreende que o templo resulta de um voto do Condestável à protecção de Nossa Senhora, e mais estranho se torna explicar o porquê de terem decorrido sete anos entre a batalha e o arranque efectivo das obras.








A capela que hoje conhecemos não reflecte as dominantes estéticas da sua primeira forma, com certeza edificada de acordo com o Tardo-Gótico que então despontava no nosso país. Durante o século XV e, presumivelmente, nas primeiras décadas do século XVI, o monumento foi intervencionado, daí resultando uma obra relativamente ambígua nas suas opções estilísticas.











Estamos convencidos que, planimetricamente, o templo conserva o essencial da sua primitiva traça, com nave única rectangular e capela-mor quadrangular. Já o mesmo não podemos dizer a respeito dos vários elementos que o constituem. O arco triunfal (que não apresenta qualquer base saliente) é de volta perfeita e ostenta o brasão português. Na abóbada de cruzaria de ogivas que cobre a capela-mor, o bocete é decorado com o Pelicano, símbolo de D. João II. Exteriormente, a ábside contrafortada nos ângulos é encimada por uma linha contínua de merlões chanfrados, solução cenograficamente militar - tão "adequada à memória fundacional da ermida" (SILVA, 2003, p.2) - que é mais frequente encontrar no ciclo manuelino que, propriamente, no tardo-gótico inicial.



Na parede fundeira da capela-mor existem, ainda, os vestígios do retábulo original, nomeadamente o baldaquino flamejante de um nicho, onde, originalmente, estava colocada a imagem da Virgem com o Menino, ao que parece uma peça contemporânea da construção promovida pelo Condestável (SEQUEIRA, 1955).








Ao longo dos séculos, outras reformas tiveram lugar. Em 1872, uma gravura revela a fachada principal algo classicizante, com porta de verga recta encimada por óculo (como a que ainda vemos), e uma sugestão volumétrica tripartida, com adossamento de dois corpos às fachadas laterais da nave. Em 1928, Ernesto Korrodi construiu um alpendre rectangular adossado à fachada principal, posteriormente suprimido pela DGEMN, numa altura em que estava já em muito mau estado, "pois tornou-se logo asilo de indesejáveis que tudo destruíram" (PAÇO, 1965, p.16). As grandes obras de restauro, que eliminaram os múltiplos acrescentos verificados ao longo dos tempos, iniciaram-se em 1940. Nos trabalhos então efectuados, descobriu-se a porta lateral Norte, em arco quebrado, que se presume ser dos poucos elementos originais do conjunto. 




Texto retirado de:
 patrimoniocultural.pt

(Direção - Geral do Património Cultural)




Fotografias de Manuela Videira
(Junho de 2016)






Placa identificativa




Placa identificativa do rei D. Fernando II,
 localizada no posto de 
atendimento do Castelo dos Mouros – Sintra.









Fotografia de C@rlos Baptista 
(2016)





segunda-feira, 4 de julho de 2016

Fonte Velha - Cabrela





Cabrela é uma localidade da freguesia da Terrugem, localizada na zona norte e rural do concelho de Sintra.
















A Fonte Velha em Cabrela, é um dos mais raros vestígios de abastecimento de águas às populações, datados da Baixa Idade Média e localizados no actual concelho de Sintra.



De planta quadrangular e com cobertura em abóbada de planta centralizada, de arestas, a fonte é uma estrutura cúbica aberta numa única face, onde existe um arco canopial de curvatura pouco acentuada e com impostas de cantaria bem marcadas, que descarrega directamente nos pés direitos.












 No interior, para além da mini-abóbada de arestas, existe uma pequena abertura circular no pavimento, executada com reaproveitamento de uma antiga pedra romana, onde se encontra a água, armazenada numa espécie de depósito subterrâneo, designado por "fonte de mergulho".


Sem documentação directamente alusiva, é de presumir que o monumento date da segunda metade do século XV ou, em alternativa, dos primeiros anos do século XVI, sendo o arco canopial o único elemento estilístico passível de constituir referência cronológica.









 Tratou-se, todavia, de uma construção pouco relevante no quadro estilístico da época, porventura patrocinada pelas gentes locais que terão contratado, para o efeito, um dos muitos mestres e pedreiros que se movimentavam pelo território, conhecendo-se a relevância do estaleiro manuelino do paço real de Sintra.


Ainda em utilização pela população local no século XX, foi objecto de restauro pontual entre 1990 e 1991, altura em que a Câmara Municipal de Sintra promoveu a sua consolidação e o arranjo urbanístico da envolvência, datando destes anos tão recentes o seu actual aspecto geral.










Via: www.patrimoniocultural.pt




Fotografias de Manuela Videira

(2 de Julho de 2016)




Forno romano - Casal de Pianos



Casal de Pianos pertence à freguesia de 
São João das Lampas, Sintra.














Este forno romano em Casal de Pianos, localiza-se na estrada que une a Tojeira à praia de Semnome.













Limpeza e sua preservação é necessário e urgente.




Fotografias de Manuela Videira
(23 de Junho de 2016)