A classificação da Quinta do Marquês, em Belas, inclui o palácio e
ainda uma capela abobadada, duas fontes decorativas, um obelisco erguido a D.
João VI e a capela do Senhora da Serra existentes nos jardins da mesma Quinta.
A história conhecida do Palácio dos Marqueses de Belas remonta ao
século XIV, e a Gonçalo Anes Roberto, (o Franco), que em 1318 era o detentor
desta propriedade. Ao longo dos séculos seguintes, a posse da quinta conheceu
muitos e diferentes proprietários que, naturalmente, foram introduzindo
alterações no edifício e jardins, ao sabor do gosto e das necessidades de cada
época. É, pois, esta complexa sobreposição de linguagens arquitectónicas, que
tentaremos identificar de seguida, isolando as principais campanhas de obras e
relacionando-as com os seus respectivos promotores e as motivações que
estiveram na sua origem.
Diogo Lopes Pacheco e D. Pedro foram as figuras dominantes no século
XIV, o primeiro possuidor da casa em 1334. A implicação na morte de Inês de Castro
valeu-lhe a expropriação da quinta por parte de D. Pedro que aqui realizou
algumas campanhas de obras. Devolvida ao tempo de D. Fernando, acabaria por ser
novamente confiscada por D. João I, em consequência das ligações dos Lopes
Pacheco a Castela, e à acusação de traição. Em todo o caso, deve-se ao último
período desta família à frente da propriedade a sala abobadada com cruzaria de
ogivas. Este monarca ofereceu a quinta a Gonçalo Peres,
seu conselheiro, mas acabou por adquiri-la em 1412, ficando, a partir desta
data, na posse dos Infantes de Avis.
Foi, no entanto, D. Brites, neta de D. João I e filha do Condestável
D. João, quem promoveu um importante conjunto de intervenções no palácio, onde
se inclui uma capela. A quinta foi herdada por D. Rodrigo Afonso de Atouguia,
fidalgo da casa do marido de D. Brites, em 1505, inaugurando um novo período de
importantes transformações.
As áreas mais significativas do palácio, que foi
alvo de múltiplas campanhas de obras, entre as quais destacamos o pátio fechado
por muro com caminho de guarda, protegido por balaustrada, que termina, no
ângulo, num pavilhão renascentista rematado por cúpula de gomos, com o brasão
dos Atouguia; ou a porta de entrada com dois colunelos, manuelina. Já o baixo relevo pintado, alusivo ao castigo de Midas, que se
encontra no tanque, é seiscentista, correspondendo, muito possivelmente, a uma
nova intervenção no palácio.
No reinado de D. João V, os condes de Pombeiro, proprietários da
quinta, trouxeram novos melhoramentos, datando de 1735 a construção da via
sacra, e de 1745 a capela do Senhor da Serra. Os passos da paixão de Cristo
foram uma manifestação muito característica do período barroco, e esta
iconografia repete-se nos azulejos azuis e brancos que revestem o interior da
capela (numa representação pouco habitual na azulejaria, mas que se pode
encontrar na capela de uma outra quinta da região, a quinta do Bonjardim).
Mirante.
Coluna encimada pelo brasão dos Correia.
Texto retirado de:
www.patrimoniocultural.gov.pt
(Direção Geral do Património Cultural)
Fotografias de Rafael Baptista
(2015)