quarta-feira, 28 de junho de 2017
terça-feira, 20 de junho de 2017
Astros e Antas - Coruche
Amanhã, dia 22 de Junho, pelas 21h00, no Museu Municipal de Coruche, palestra
com o investigador Fábio Silva.
O Megalítico no nosso país pode e deve ser mais um Polo de
desenvolvimento regional, principalmente no interior do país, para isso, os
nossos municípios devem estar
sensibilizados para este segmento cultural.
Urge recuperar e dinamizar este sector, pois só com a preservação da
nossa história, poderemos criar mais sustentabilidade às regiões onde estes
monumentos abundam, dando emprego local
e garantindo um suporte económico com a vinda de turistas nacionais e
estrangeiros aos sítios.
quinta-feira, 15 de junho de 2017
A presença judaica na Guarda
Integrada no povoamento judaico da raia portuguesa está a região da
Beira Interior. Nela nasceram algumas comunas que criaram em seu redor
judiarias suas satélites. Estas reduziram-se a uma rua onde habitavam judeus
mas não possuíam autonomia comunal, ou seja, não possuíam magistrados próprios.
Na sua grande generalidade a origem da maior parte destas pequenas judiarias
remonta ao grande surto de povoamento judeu, datável dos fins do século XIV e
da centúria seguinte. A comuna de judeus mais antiga é a da Guarda. A
documentação fá-la remontar, pelo menos, ao séc. XIII, pois D. Dinis afora as
casas régias da freguesia de S. Vicente a famílias judaicas e instala numa
delas a sinagoga.
É a judiaria nova, prolongamento de uma anterior, a judiaria
velha o que nos faz supor a sua anterioridade ao tempo de D. Afonso III ou até
mais cedo. É a judiaria que principia próximo da Porta d`EL Rei e termina junto
ao Adro da Igreja de S. Vicente, tal como ainda hoje persiste na memória
toponímica da cidade. Os judeus estenderam-se pela rua que corre dos açougues
para o paço real e pelas travessas adjacentes à muralha da cidade e pela rua
direita que termina na Porta d`EL Rei.
Judiaria da Guarda
O encerramento do bairro judaico foi tardio, talvez da segunda metade
do século XV. Em 1465, fechou-se a saída da judiaria para o Adro de S. Vicente,
devidos aos protestos dos cristãos e, em 1475, um contrato de aforamento
referia o "çarramento da judiaria que ora se faz". Nela residiram
famílias judaicas como os Ergas, Pernica, Castro, Falilho, Tobi, Querido, etc.
Em finais do séc. XIV, pela inquirição feita neste concelho por ordem
de D. João I, sabemos que residiam na judiaria cerca de 40 famílias, ou seja,
cerca de 200 indivíduos de credo moisaico. Em meados da centúria, o seu número
triplicara, reflectindo assim a mobilidade judaica no interior da Península. A
população rondava então entre 600 a 850 pessoas, que na sua maioria, se
dedicavam aos ofícios. De facto, em meados do séc. XV residiam naquele local e
tinham permissão para contratar na sua arte 31 sapateiros, 6 ferreiros, 5
tecelões, 4 alfaiates e gibiteiros, 1 tosador. Havia ainda 3 mercadores e 1
físico. conhece-se ainda o nome de 3 rabinos, tendo os 2 últimos o nome de José.
Talvez se tenha passado com o último, chamado José Oça, o episódio em que o
rabino matou os seus quatro filhos para evitar a sua educação cristã, de acordo
com a ordem régia.
Na época da expansão marítima, a judiaria da Guarda, uma das mais
abastadas graças ao labor artesanal e mercantil dos seus membros, foi das mais
causticadas e das que mais contribuíram para o espírito de cruzada das
expedições e também para a defesa do Reino. Infelizmente, a fanática pressão
dos reis católicos junto de D. Manuel I levaram-no a decretar a expulsão ou conversão
forçada dos judeus, em 1496.
Marcas cruciformes gravadas nas paredes das
casas da antiga Judiaria da
Guarda.
Recolha efectuada em Janeiro de 2012.
Actualmente a Guarda conserva ainda um bairro que mantém o aspecto
geral da judiaria, os seus arruamentos e casas, não obstante de ter sofrido
alterações, principalmente nos últimos decénios. Desde o repovoamento de D.
Sancho I até à expulsão e conversão forçada, (1496), sempre aqui houve judeus.
Sabemo-lo pelo foral sanchino, pelos Costumes e pelo foral novo de D. Manuel I,
de 1 de Junho de 1510.
As casas da judiaria são baixas, térreas ou de um só andar. As casas
sobradadas da gente do Povo eram raras até ao séc. XIV, multiplicando-se a
partir de então. As moradias dos mercadores apresentam, normalmente, uma porta
estreita e uma porta larga. Esta abria para a loja, isto é para o
estabelecimento comercial. A estreita dava entrada para as escadas, que conduziam
à residência assoalhada sobre a loja de comércio. Curiosamente, muitas destas
casas têm as ombreiras e torsa trabalhadas em bisel, quer na porta de entrada
da habitação, quer na do comercio.
O largo da judiaria, apesar das
adulterações, é um dos recantos mais castiços da Guarda primitiva, na modéstia
dos seus edifícios. O comércio e o desenvolvimento agrícola incrementado ao
longo dos séc. XVI e XVII, modificaram o ruralismo introduzindo na Guarda a
arquitectura pesada quinhentista a que se seguiu a filipina, com cornijas
salientes, gargulas de canhão, pátios e amplas salas. Havia ainda um
arrai-menor, o qual, entre outras funções, determinava os tributos que deveriam
pagar os judeus daquela comarca, o que por vezes levantava protestos, como
aconteceu no tempos de D. Afonso IV. Os judeus tinham sinagoga. Inicialmente
funcionou num edifício alugado. Depois, construíram-na.
A judiaria tinha a entrada principal às Quatro Quinas, local onde
confluem três ruas que se cruzam e foram quatro esquinas de rua. A mais longa
dessas artérias comunica com a Porta de El Rei, uma das entradas da cidades.
Esta porta fica a alguns metros das Quatro Quinas, e da entrada da judiaria. Hoje
está assinalada por uma placa de mármore colocada em 1980 pela Associação de
Amizade Portugal – Israel.
A antiga Rua Nova da Judiaria tem o nome de Rua do Amparo. Do lado
direito desta entrada, vê-se emparedada a porta da Casa da Guarda. Onde o
Porteiro fazia o controlo e abria ou fechava o acesso. A Casa da Guarda é um
edifício que conserva as características medievais e poderá datar do séc. XIV.
A obrigação dos judeus da Guarda respeitarem o regulamento das horas de recolha
não deve ter tido de longa duração, pois sabemos que cedo começaram a ter casas
junto das dos cristãos. a judiaria, como bairro isolado não era uma forma de
discriminação, mas sim de protecção à privacidade exigida pelos próprios
judeus. A judiaria, de que a Rua do Amparo e anexas são documento, estava
isolada do resto da cidade e o seu acesso só era possível fazer-se por duas
ruas.
O uso de distintivo próprio, a estrela amarela de David, nunca conseguiu
ser imposto com êxito aos judeus portugueses, embora nas Cortes os reis fossem
advertidos com relativa frequência de que deveriam por em prática estas medidas
legislativas. Em 20 de Fevereiro de 1391, nas Cortes de Évora, D. João I foi
coagido a promulgar uma lei que ordenava que todos os judeus, usassem emblemas
avermelhados hexagonais, do tamanho do seu grande régio, aplicados nas vestes
exteriores "acima da boca do estômago". Quem não obedecesse poderia
perder a roupa ou ser preso durante 15 dias.
Estas disposições estão incertas
nas Ordenações Afonsinhas mas apesar disso, o sinal discriminatório não foi
usado. Outras proibições não surtiram efeitos executórios. Foi o caso, por
exemplo, da legislação criada por D. Duarte, sobre influencia da castelhana,
que proibia que os judeus empregassem cristãos, ou cristãs, como trabalhadores,
pastores ou criados. Aos judeus era interdito negociar com mulheres à porta de
casa. Só o podiam fazer na via pública. Mas havia certas profissões em que tal
era permitido: a dos médicos, cirurgiões, alfaiates, pedreiros, marceneiros e
carpinteiros, aos quais era permitido penetrar em casas cristãs desde que
acompanhados por dois homens, ou duas mulheres cristãs. Os judeus que
mercadejavam nas aldeias ou compravam mel nas quintas, cera, peles de coelho e
de borrego, etc., além dos outros vendedores ambulantes, podiam entrar em casas
cristãs, onde houvesse mais do que uma mulher. era vedado às mulheres cristãs
que não fossem acompanhadas de um homem cristão barbado entrar nas lojas dos
judeus para fazer compras ou vendas.
Era vedado às mulheres cristãs, sob pena
de morte, entrar na judiaria, ou manter relações ilícitas com os judeus. Era
proibido aos judeus beber vinho nas tabernas dos cristãos quando houvesse
taberna judia. Os judeus pagavam, um tributo especial, a juderega ou judenga,
fixado em trinta dinheiros, per capita. Este sistema recorda os trinta denários
(dinheiros) porque foi vendido Cristo.
Na tradição e na alma da gente da Guarda conserva-se a memoria da
presença judaica. As famílias tradicionais da cidade não poderão negar uma
ascendência hebraica operada depois do séc. XVI, através dos matrimónios de
cristãos-novos...
Fontes:
www.redejudiariasportugal.com
judiariadaguarda.web.simplesnet.pt
www.turismo.guarda.pt
Fotografias de Manuela Videira e de
Rafael Baptista
Rafael Baptista
(2012)
Subscrever:
Mensagens (Atom)