Esta capela localiza-se na estrada que
liga Janas a Fontanelas.
O sítio de São Mamede de Janas tem uma longa história de sacralidade,
remontando as suas origens, pelo menos, ao período de domínio romano, altura em
que aqui se terá edificado um primitivo templo. Dessa estrutura restam ainda
importantes vestígios junto aos contrafortes do actual templo, mas a
identificação nas proximidades de espólio pré-histórico (FERREIRA, 1962, pp.340
e 363) pode fazer recuar ainda mais a cronologia inicial de ocupação do local (...).
Os vestígios romanos materiais são pouco relevantes e resumem-se a
"restos duma construção baixa, muito grosseira, também de planta circular
e constituída por pesados blocos de calcário ligados por argamassa e dispostos
de maneira a formarem dois degraus" (IDEM, p.337). No entanto, existem
bons argumentos que relacionam esse passado romano com a planta circular do
templo (que teria sido, assim, mantida na construção da capela), com a estranha
solução "de seis elegantes colunas de fuste liso, de sabor clássico, que
se ergue ao centro" (IDEM, p.338) e, ainda, com o aparecimento de algumas
sepulturas de inumação nas imediações (IDEM, p.341).
No século XIX, o Visconde
de Juromenha admitiu a hipótese de aqui ter existido um templo dedicado a Janus
(facto que explicaria também o topónimo Janas), mas estudos posteriores
sedimentaram a hipótese de se ter tratado de um templo a Diana, pela natural
continuidade de culto entre a divindade pagã e o santo cristão (ambos
protectores dos animais), pela possível origem do topónimo Janas em Diana (com
forma intermédia em Jana, ou Iana) e pela circunstância de os templos romanos
dedicados a esta deusa serem de planta circular (IDEM).
Esta hipótese de interpretação (que o autor prudentemente assim
cataloga), não foi, até ao momento, confirmada ou rejeitada, pelo facto de
ainda não se terem realizado escavações sistemáticas no local. Desta forma,
apenas sabemos que, antes da actual capela, existiu um outro templo, cujos
indícios materiais e conceptuais apontam para o período romano. Também
desconhecemos a evolução do sítio durante toda a Idade Média, sendo certo que
ele já existia em 1494, altura em que se refere a ermida de São Mamede
(MARQUES, 1939).
A actual configuração data da época moderna, provavelmente de finais
do século XVI (como se menciona nos Tesouros Artísticos de Portugal, 1978,
p.304), ou já do século XVII (como pretendeu CORREIA, 1914, p.212). O carácter
erudito da sua estrutura central, circular e formada por colunas italianizantes
de fuste liso e capitéis que suportam um tambor que se ergue até ao tecto, fez
com que alguns autores sugerissem tratar-se de uma obra devida ao génio de
Francisco d'Ollanda, que sabemos ter andado por estas paragens.
Em volta do tempietto, existe o corpo do templo, de planta circular,
com banco corrido a toda a volta, interrompido pela minúscula capela-mor, cujo
altar é ladeado por ex-votos animalistas. O púlpito, que pretendeu copiar o
tempietto, é de 1881. No exterior, sobressai o alpendre (estrutura tão comum
nos templos rurais do aro de Sintra), que se adossa a metade da capela e ao
qual se acede por duas portas, e os três contrafortes que reforçam a parte mais
baixa do monumento.
A ermida é ainda importante de um ponto de vista antropológico, uma
vez que, entre 15 e 17 de Agosto, aqui se realiza uma curiosa romaria de pendor
rural, que consiste na condução de gado em volta do templo. A tradição impõe
que se façam três voltas rituais no sentido contrário ao dos ponteiros do
relógio e, muitas vezes, os seus donos depositam ex-votos no interior,
acompanhados de ofertas como trigo, cevada ou azeite (recebendo os animais, em
troca, fitas de cores que conservam durante o ano). Esta "troca"
devocional continua ainda a verificar-se nos dias de hoje, embora já sem a
amplitude de outros tempos, em que chegou a verificar-se a afluência de manadas
vindas de uma vasta região que ia de Cascais a
Torres Vedras.
Está classificado como Imóvel de
Interesse Público.
(Direcção – Geral do Património Cultural)
Fotografias de e tratadas através de
SmartHDR, por Rafael Baptista.
(Abril de 2017)