O Chafariz D´el Rey edificado no século XIII por ordem do rei D. Dinis,
é um dos mais antigos de Lisboa,
e está localizado bem próximo da famosa Casa dos Bicos.
Devido à grande afluência de pessoas, foi decretado no ano de 1551, uma norma
camarária regulamentando o acesso à água. Cada uma das seis bicas do chafariz
servia um só grupo social: negros, mulatos e índios; mouros das galés; rapazes
e homens brancos.
Registos históricos dizem-nos que este chafariz tinha seis bicas de
pedra, com bocais de bronze, e à sua frente ficava um pequeno átrio, com 17,6 m
de comprimento por 8,8 m de largura, e cerca de 1,32 m inferiormente ao terreno
circundante, para o qual se descia por duas escadas laterais com 6,16 m de
largura (1).
Existiram por várias vezes obras no Chafariz, tanto no seu interior
como na fachada; existiu em 1699; em 1726 ainda conservava as seis bicas ( 2 );
no 2º quartel do século XVIII houve novas obras, que se concluíram em 1747,
tendo-se aumentado para nove o número de bicas (3), e talvez feito o
apainelamento da frontaria do corpo inferior, como se conservou pelo menos até
1821 ( 4 ). Foram realizadas outras obras de intervenção nos anos de 1774/75;
em 1836 trabalhava-se no apainelamento superior do frontispício, que se
continuava em 1859 ( 5 ), tendo-se assentado nesse anos os painéis e vergas,
algumas pilastras e uma parte da cimalha ( 6 ), e em 1861 concluía-se o dito
apainelamento superior, a platibanda, a colocação dos dez vasos com piteiras de
folha de "Flandres" e as oito pirâmides, que ainda lá se encontram (
7 ).
Este chafariz histórico encontra-se a poucos metros
desta Travessa.
O frontispício apresenta a fachada em dois planos ou corpos; um
inferior, onde estão as bicas, e outro superior, mais recuado, sobre o qual
corre um estreito terraço. Toda a obra é de cantaria, em painéis; o do meio do
corpo inferior ostenta as «armas do reino», sem a coroa (retirada depois de
1910); e dois laterais mostram a «caravela do escudo de armas da cidade de
Lisboa».
Corpo central do "Chafariz d´el Rey", ostentando as armas
do reino sem a coroa.
O pátio ou átrio de acesso às bicas, já reduzido a uns 4 metros de
largura, foi estreitado para 2 metros (até ao murete do tanque das bicas); o
seu comprimento, na cortina quadrada, é igual a 27,6 (metros); o número de
bicas está actualmente, desde (1939) reduzido a três, com torneiras,
alimentadas com água do «Alviela».
No local onde existe o depósito de água era uma parte a descoberto e
outra abobadado. Tem por cima uma casa apalaçada.
Já no século XX o transporte de água para as necessidades domésticas
era (naquela época) um dos trabalhos braçais mais ingratos e que ocupava maior
número de pessoas. Os que podiam pagar, compravam a água para os gastos aos
aguadeiros, geralmente "os galegos", que constantemente percorriam
as ruas de Lisboa de barril às costas, ou se juntavam, formando grupos
numerosos, à volta dos chafarizes, nomeadamente do «Chafariz d´ el Rey», à
espera de vez.
Todo o espaço necessita de uma limpeza, passam
ali milhares de turistas.
Alternando com os «galegos», na vez de encher o vasilhame, havia
sempre muitas mulheres de várias idades, algumas quase crianças, com cântaros
de barro, por vezes até dois, um à cabeça e outro debaixo do braço. Eram
geralmente criadas das casas da burguesia ou mulheres do bairro, que
transportavam a água para o gasto da família.
Reprodução do “Chafariz d’el Rey no século XVI” (pintura flamenga,
1570-80, de autor desconhecido, óleo sobre madeira).
Colecção Berardo.
Texto retirado de: aps-ruasdelisboacomhistria.blogspot.pt
(Ruas de Lisboa com alguma história)
Fotografias de C@rlos Baptista
(Março de 2017)